27 de junho de 2004

tu e o palco

Cruzei-me contigo apenas por um instante.
Nesse momento vi aquilo que todos verão.
Agora,
É hora de seres partilhada,
É agora o momento,
É este o instante em que nasces,
para seres tu,
actriz,
Para brilhares em qualquer palco.

26 de junho de 2004

fui

Vôo,
Vou ali ao aeroporto,
Ali onde se parte,
Onde se chega.
Ali, local de encontros e desencontros.
Ali onde vou chega em vôo,
Alguém que vou encontrar.
Chega hoje quem me pôs aqui.

aqui e ali

Estou aqui entregue a este espaço,
Entregue ao pensamento,
Entregue a tentativas,
A toques e retoques,
Estou ali, dentro de um imaginário espaço,
Vivo, ando, durmo, como...
É lá que estou.
Dentro de um espaço que vive na minha mente,
Estou aqui,
Entregue ao deambular do pensamento.
Ali,
Sentei-me, vejo o verde daquela arvore,
Fecho os olhos,
Ouço o bater das folhas naquele vidro,
Sinto a brisa refrescante,
Ouço o chilrear do eléctrico que passa,
Adormeço...
Acordo aqui, entregue a esta sala onde o pensamento vagueia.

23 de junho de 2004

palavra solta

naquele dia disse-te adeus,
apenas isso, adeus.
meras letras articuladas pela minha boca.
a d e u s.
disse-o sem saber como o fazer e,
segui caminho,
mas deixei contigo uma parte de mim e uma palavra sem alma,
adeus,...como?
se ainda escrevo a pensar em ti.

21 de junho de 2004

contigo, viajei

Sorvi cada palavra tua.
Cada exclamação, interjeição.
Passei suavemente os dedos pelo teu corpo.
Contaste-me uma história linda, envolveste-me.
Percorri-te com o olhar, com o pensamento.
Levaste-me para dentro de ti,
Falaste-me sobre os outros,
Mostraste-me como o faziam.
Mostraste-me o mundo.
Com um ponto final, deixaste-me.
Partiste para junto dos outros.
Juntaste-te à memória do que não vivi.
Fechei-te,
Pus-te na estante.

18 de junho de 2004

tu

Olhaste-me e não me reconheceste.
Talvez vejas, ao olhar o espelho, o que em mim falta,
Tu.

17 de junho de 2004

pousar o livro

Às vezes é mesmo necessário pousar o livro, fechá-lo, arrumá-lo,
deixar que o tempo nos leve novamente a pegá-lo.
Talvez um dia o consigamos ler.
Quem sabe o que o tempo nos reserva?
Talvez um dia as palavras nos digam algo,
talvez um dia estejamos dispostos a ler esse livro, a viver essa história.
Ou talvez o tempo o encha de pó, deixando-o arrumado,
escondendo uma história que ficará por ler.

15 de junho de 2004

talvez

Estava a lanchar quando te vi do outro lado, noutra pastelaria, ali mesmo em frente.
Voltei a olhar e também tu me olhavas, olhavas e continuaste a fazê-lo até que eu timidamente desviei o olhar.
Aproximaste-te com o pretexto de levantar dinheiro e estiveste ali bem perto de mim.
Olhei pelo ombro e fui novamente caçado pelos teus olhos.
Puxei de um cigarro e fumei-o nervosamente.
Passas-te mesmo à minha frente e saíste.
Passei o resto do dia a pensar em ti, sem saber se te voltarei um dia a ver.
Quem sabe!?
Talvez um dia te volte a ver, talvez um dia te conheça...
Talvez...
Talvez tu estejas a pensar naquele instante!
Talvez...

13 de junho de 2004

11 de junho de 2004

10 de junho de 2004

escrevo para que me ouças

Escrever é...
Dizer sem ter que o fazer,
É esvaziar as palavras que nos correm na alma,
Que nos enchem o pensamento.
Escrever é dizer-te que te amo, sem ter que o fazer.
É dizer-te que sinto a tua falta, o teu afago,
O teu aconchego.
É dizer-te que penso em ti, mesmo quando não me ouves.
Escrever é dar-te um pouco de mim.

9 de junho de 2004

tentei ler

Estava a tentar ler um parágrafo de um livro e após ler e reler fechei o livro.
Fechei porque não conseguia reunir as letras, encontrar-lhes significado.
Relia as palavras e nada.
Lia e voltava atrás para ler novamente. Não adiantava. Devemos ler quando queremos, como e onde o quisermos fazer. Acima de tudo devemos estar ali, prontos para ser levados para outro lugar, prontos para viver outras vidas, para espreitar outras gentes, outras realidades.
E eu não estava ali, já tinha partido mesmo antes de começar a ler.

8 de junho de 2004

a dois tempos

quando menos queremos,
ele passa veloz como a luz, em direcção a um desconhecido e incerto futuro.
quando lá chega torna-se lento,
fazendo-nos lembrar quão curto foi tempo a teu lado.

mas que emoção!

Já todos devem saber que hoje se viu Vénus, esse planeta maluco que foi para as luzes da ribalta.
Levantei-me e fui à farmácia comprar uns óculos que não servem para nada a não ser para olhar o sol. Na segunda farmácia lá encontrei os ditos.
Diz que servem para proteger dos raios e coriscos (que eu agora não me lembro do nome dos raios).
Pedi dois, não fosse eu querer estar a olhar o fenómeno até ao fim sem ter que interromper o espectáculo para que o meu pai também pudesse assistir.
Quase deixei de ver o sol, tal era a sumptuosidade do pontinho.
Sinto que fiz um bom investimento ao comprar dois pares de óculos, já que assim posso olhar o sol sempre que quiser, e estarei munido para o encore daqui a um ou dois séculos.
Esta semana é uma semana de acontecimentos. Foi o rock in rio, vai ser o superbock, o euro que começa no sábado, e hoje foi o dia de ver Vénus.
Mas que semana em cheio!
Eu vou é tentar refazer-me desta emoção toda e fazer o meu trabalho para não me ver grego no sábado com a entrega de projecto.

7 de junho de 2004

lembras-te?

era noite, e estava frio.
lembras-te?
tínhamos o céu como limite.
senti-te em todos os movimentos,
a cada beijo uma orquestra de ondas,
mil palpitações, mil emoções,
ouvimos, sentimos, fizemos...
em cada murmúrio,
a cada beijo,
a cada onda,
ao ceder dos nossos corpos,
lembras-te?
foi o que fizemos,
Amor.

6 de junho de 2004

eternamente jovem

Chegar a Brasília é descobrir, um mundo novo, depararmo-nos com um projecto vivo de urbanismo. Somos confrontados com algo que poderia ter sido uma utopia, mas que o não é.
Conhecer a cidade passa por conhecer o seu projecto, saber como foi pensada e certamente pelo confronto com os edifícios que vão pontuando a paisagem com maior ou menor destaque, consoante o seu maior ou menor carácter público.
Nesta capital burocrática, deparamo-nos com o peso simbólico dos principais edifícios de gestão política, apoiados numa autêntica cidade invisível. Vê-la implica mergulhar no subsolo e descobrir toda uma infra-estrutura enterrada, que esconde gabinetes, salas de conferências, salas de reuniões, enfim, as pessoas que detêm o poder. E é nesta particularidade que se invertem os preceitos da maioria das capitais mundiais.
De notar que o figurativismo icónico presente no palácio dos congressos é pontuado por dois anexos que albergam um proletariado invisível nas demais cidades do mundo capitalista. Contrariamente à cidade de Nova Iorque, não se eleva o poder económico mas sim a força do povo e, concentram-se num mesmo espaço público todos os equipamentos de estado, clarificando a (utópica) organização político-social.
Nesta urbe tudo tem o seu lugar, todas as funções se concentram. Tudo se separa por sectores que assentam numa malha regular e à semelhança de Manhatan também é possível uma orientação mediante coordenadas, mas desta feita a deslocação poderá apenas ser efectuada à superfície, através do automóvel. Atrever- -me-ia a afirmar que esta cidade foi pensada apenas para o automóvel.
Os meios de transporte são precários e, o percurso pedonal foi menosprezado no plano de Lúcio Costa. Privilegiando apenas a prática de desporto ou o caminhar entre as quadras residenciais. O espaço público toma dimensões tais que inviabilizam percursos pedonais de apropriação do lugar, chegar a determinado espaço implica o uso do automóvel ou dos precários autocarros.
Dentro do plano piloto, assiste-se a uma forte dicotomia entre os sectores comerciais ou laborais e, o sector habitacional. Neste último somos atirados para o exterior, para um contacto de proximidade com o verde em oposição aos outros sectores em que somos empurrados para o interior deste ou daquele edifício.
Esta qualidade de vida, existente no sector habitacional, perde-se nas cidades satélites, em que o espaço verde é marginalizado em favor da edificação, contrariando as premissas ditadas à pouco mais de 40 anos.
O elevado custo de vida brasilense não se compadece com uma maioria populacional, subjugada à periferia. Continuam desta forma dezenas de projecções residenciais por ocupar. Dentro do plano piloto vive uma minoria dos urbanitas, incluindo-se uma percentagem considerável de uma população flutuante que habita a cidade temporariamente, chegando mesmo esta a abandoná-la no fim de semana.
Na situação hipotética de Erasmo poder viver esta realidade, dificilmente se integraria nesta malha de relações e rapidamente escolheria uma nova cidade para absorver e conhecer as gentes do mundo. Nesta urbe um indivíduo facilmente se torna num cosmopolita em busca de outras realidades fora dos limites da cidade.
Viver em Brasília implica abandoná-la, repetidamente.
É difícil estar confinado àquele universo em que a rua se fecha fora do horário laboral, sem que se viva o espaço público.
A troca de experiências torna-se difícil, dada a segregação provocada por uma estratificação rígida e inflexível. Também as pessoas se encontram sectorizadas.
Compará-la a Nova Iorque, Madrid ou Roterdão é acima de tudo apontar a sua parca idade mas também a falta de espontaneidade, que mesmo na big apple, com a sua malha igualmente regular, se verifica pelas diferenças altimétricas.
É oposta a qualquer uma das cidades citadas, pela mobilidade, ou pela falta dela.
Faltar-lhe-ia tempo para crescer de forma orgânica, gerando outros universos que enriqueceriam a sua apropriação. Tal metamorfose é tornada inviável pelo tombamento da UNESCO, em 1987, que por um lado protege uma qualidade de vida mantida no sector residencial, mas que condena a capital a uma estaticidade imprópria de uma cidade.

2 de junho de 2004

Ultima hora!!

Modem estraga-se e perdem-se as comunicações com o resto do mundo.
Bruno metido no seu mundo questiona-se:
Por onde terá andado o Olavo?
Que terá miado a outra?
Por onde andará o homem estupendo? (esse não foi a lado algum até porque partilha o mesmo modem que eu)
Que palavras vazias terão sido escritas a cheio?
Continuará a outra a pensar sem querer?
E o outro? Continuará a encher a barriga de informação?
Hum!
Vou começar pela sobremesa, leite creme.